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6 de abril de 2019

Herman José | Na Primeira Pessoa


Herman José é um nome incontornável da minha infância...Recordo-me de passar o fim de ano à frente da televisão a ver os seus programas especiais, que ainda hoje guardo religiosamente! Acompanhei sempre o seu trabalho ao longo do tempo, admirando a sua perseverança e capacidade de se reinventar, o que na minha opinião o tornam no Pai da comédia portuguesa contemporânea! 

É também curioso registar numa conversa entre amigas, de diferentes gerações (20, 30, 40 anos) que nutrem por ele a mesma admiração e carinho. Foi por isso, uma enorme honra realizar esta entrevista, e a primeira vez que, perante alguém que tanto admiro, senti as pernas tremer e uma mistura de nervoso miudinho e muita vontade de rir. É impossível não ficarmos de bom humor perante as suas piadas, a sua atenção ao outro, como se tentasse absorver de nós tudo o que lhe podemos transmitir. Um homem extremamente culto, inteligente, atento ao pormenor e que apesar do sucesso trabalha todos os dias para fazer cada vez melhor.


O Herman é uma referência intergeracional. Como se consegue reinventar para continuar no topo ao longo de tantos anos? 

O segredo é viver em estado de constante paixão pela profissão e de muito respeito pelo público que gosta de nós. Mantê-lo interessado no nosso trabalho é como cuidar de um Bonsai. É um trabalho constante, obsessivo e que nunca pode nem deve ser descurado. Tal como numa relação amorosa, há que ceder à tentação de deixar que qualquer forma de rotina se instale e começar cada dia como se fosse o primeiro. Sem tiques, sem manias, sem indolências, sem certezas. A decadência instala-se no dia em que achamos ser o centro do nosso mundo.


Televisão, cinema, rádio, televisão, o palco…? Qual é o formato com que mais se identifica? 

Eu diria que uns não podem viver sem os outros, mas a ter de escolher seriam os palcos. Há no trabalho ao vivo, uma energia, uma variedade e uma entrega que não se conseguem em nenhum outro meio de comunicação. Desde a Grécia antiga, que a representação se mantém como o mais nobre dos desafios. Pena que a memória resulte tão caduca. Nesse aspeto, não deixo de me encantar pela perenidade do cinema e da televisão, que nos mantém vivos e intemporais, como acontece com os meus programas de sucesso sempre que são repostos.


Já fez todo o tipo de registos em televisão…Faz parte dos seus planos voltar a ter um programa só de sketches ao estilo de Tal Canal ou de um mais recente Herman Enciclopédia? 

O lema na minha vida é “Nunca digas nunca!”. Nesta fase, só o conseguiria mesmo que a semana passasse a ter pelo menos 20 dias…A itinerância rouba-me muito tempo. O programa que faço atualmente da RTP, o “Cá Por Casa”, representa o máximo denominador comum entre tempo de estúdio, horas de escrita e dias de gravação. 


“Eu é mais bolos”…”Não havia necessidade…”. As pessoas continuam a dirigir-se a si com algumas das expressões mais emblemáticas dos seus papeis? 

Sem modéstias confesso-me espantado com a longevidade das muitas frases que criei. Mas fico ainda mais assoberbado quando constato que também as gerações mais novas as descobriram e adoram. Chega a ser comovente.


Quais as personagens que criou que mais o marcaram? 

A primeira grande personagem foi o Tony Silva nascido em 1980. O comentador José Estebes mantém um êxito surpreendente. Nasceu em 1983 e até tem direito a lugar no museu do FCP. O Serafim Saudade, nascido em 1985, fecha ainda hoje todos os meus espetáculos e é o rei de todos os karaokes. Finalmente não posso deixar de salientar o “Nelo”, que ao lado da sua “Idália” (Maria Rueff) é vedeta incontestada no meu programa das quartas-feiras.


Como lida e qual a importância das redes sociais para si? 

Hoje em dia são uma espécie de “braço armado” da carreira e da venda de bilhetes. É impensável viver sem elas. Nunca o público esteve tão perto dos seus artistas. É um processo fascinante. 


O Herman conheceu várias evoluções da televisão. Como caracteriza a programação de hoje em dia? 

A possível. As televisões generalistas lutam com todas as armas para não se deixarem esvaziar pela concorrência das novas plataformas. Uma verdadeira dor de cabeça para quem as dirige!


Utilizou muitas vezes a sátira como instrumento. Os humoristas têm responsabilidade social em denunciar alguns comportamentos ou situações? 

A primeira responsabilidade de um humorista é fazer rir. Com qualidade e atrevimento. Se para além disso conseguirem juntar ao seu trabalho uma função social, melhor. Mas sem que o público se aperceba. As pessoas não gostam que as tratem como entidades acéfalas que carecem de formação por entidades que se assumem como detentores da moral e da verdade. 


Que humoristas da nova geração o fazem rir? 

Muitos. Todos aqueles que tratam esta arte com profissionalismo e que lutam no dia a dia para burilar as suas faculdades. Aos outros, o tempo se encarregará de os mandar para o lixo. 


Referiu algumas vezes que Portugal é um país pequeno…Se pudesse ter escolhido outro local para a sua carreira qual seria? 

A resposta é óbvia: quem não gostaria de ter sucesso no berço de todos o “show business”, os Estados Unidos da América? 


Que representa este disco “Amanhã Faço Dieta”? 

No fundo, é a atualização dos meus temas mais emblemáticos, com ritmos irresistivelmente dançáveis. O “Amanhã Faço Dieta”, que foi escrevi em 2012 para fechar um programa, viralizou e passou a “hino dos gorditos”. Fui quase intimado a gravá-lo, tantos foram os pedidos. 


Como se define como homem? 

Um tipo honesto, ambicioso, epicurista, trabalhador e avassaladoramente pragmático. Só acredito naquilo que vejo e no que a ciência me pode provar. 


Obrigada Herman foi um enorme prazer!



Agradecimentos Rooftop Hotel Mundial



Look

Jumpsuit Massimo Dutti S/S 19 | Stilettos Rockport 

Créditos Fotográficos Rute Obadia Fotografia


4 comentários:

  1. Parabéns, entrevista fantástica com alguém que sempre nos fez rir!

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  2. Adorei. Já vi o show do Herman ao vivo numa passagem de ano e ele é realmente único.

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