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31 de agosto de 2013

Sara Rodi | Na Primeira Pessoa


O livro “D. Teresa de Távora, A Amante do Rei” fez-me companhia nestas férias e tinha muita curiosidade em conhecer a sua autora, Sara Rodi. Encontramo-nos na esplanada do “Ministerium”, no Terreiro do Paço, e de imediato tive a sensação que sempre nos havíamos conhecido. Em comum temos o gosto pela escrita e pelo universo feminino, pela blogosfera e qualquer coisa indefinível a que chamo cumplicidade.


Sara, o seu livro mais recente, “A Amante do Rei”, retrata o período do Reinado de D. José I e o Terramoto de Lisboa, sendo uma das áreas mais atingidas aquela em que nos encontramos, o Terreiro do Paço. O que a inspirou para retratar este período em particular da História de Portugal?

Sempre foi um período que me fascinou. Quando vim viver para Lisboa, habitei uma casa perto da estátua do Marquês de Pombal e descia muitas vezes a Avenida da Liberdade com a sensação de ter por debaixo dos meus pés uma parte determinante da nossa História. Uma tragédia natural daquelas proporções pode ser decisiva para os destinos de um país. Ninguém fica igual depois de passar por ela. E o futuro do país que a atravessa depende em larga medida da forma como se gere, económica e socialmente, um pós-tragédia.


Porque se inspirou na personagem de D. Teresa de Távora? O que mais a fascinou nesta mulher?

Gosto de personagens “esquecidas” da nossa História. Esta mulher era uma presença forte nos grandes acontecimentos que marcaram a segunda metade do século XVIII, sem que dela muito se soubesse, e nenhum autor de ficção tinha ainda experimentado entendê-la. D. Teresa era, como tantas outras mulheres (e homens também) da nossa História, alguém julgado por todos, sem direito a defesa. E a minha ficção centrou-se aí: quem poderá ter sido esta mulher? O que poderá ter pensado? Porque terá feito o que fez e como terá lidado com as consequências dos seus actos?


Para além da pesquisa inerente ao livro fez também pesquisa relativamente aos costumes e formas de vestir da época. É uma apaixonada por moda? De que modo considera que a moda está relacionada com a História?

A moda é um dos reflexos mais visíveis do modo de vida e pensamento de um período histórico. Podemos tentar entender um século através daquilo que se escreveu, da música que se produziu, dos edifícios que se construíram, mas também através daquilo que se vestiu. Não posso dizer que seja uma apaixonada por moda, mas compreender a História passa necessariamente por compreender também a forma de vestir de cada época, e eu tive de fazer o meu trabalho de casa, para “vestir” convenientemente as minhas personagens.


Tem algum criador de eleição?

Gosto de espreitar os criadores portugueses (Tenente, Nuno Baltazar, Anabela Baldaque, ...), mas não consigo dizer que tenha um preferido. Gosto de linhas sóbrias e elegantes, em materiais confortáveis, mas não sou muito fiel nem a criadores, nem a marcas ou lojas. Só fiel àquilo de que gosto.


A Sara escreve também para televisão. Quer falar-nos um pouco sobre isso?

Durante a faculdade (FCSH – UNL) tive algumas cadeiras de guionismo, que tive oportunidade de aprofundar em Barcelona. Quando regressei a Portugal queria escrever para cinema, mas a oportunidade que surgiu foi a de colaborar na escrita de uma novela (“Ganância). Acabei por trabalhar para televisão durante 9 anos. Só me desliguei em 2009, quando já estava grávida dos meus filhos gémeos, que seriam os meus 3º e 4º filhos. O ritmo televisivo não era compatível com aquilo que queria para a minha vida familiar e tive de fazer opções.. Hoje em dia colaboro pontualmente com algumas séries (“Bem-vindo a Beirais” é a mais recente), mas direcionei a minha vida profissional para os livros, que sempre foi, na verdade, o que quis fazer.

 
Sei que escreve muito para crianças e jovens. Como surgiu esta paixão?

Escrevi o primeiro livro infantil quando estava grávida do meu primeiro filho, e tornou-se viciante. Além dos meus 4 filhos, tenho 6 sobrinhos e muitos outros “emprestados”. Gosto muito de crianças e, sobretudo, acredito muito nas crianças e naquilo que elas poderão fazer por este mundo (que será o deles). Gosto de pensar que, através dos meus livros, e das sessões que faço nas escolas, lhes dou algumas ferramentas para essa transformação necessária.


 Escreveu também “D. Estefânia, um Trágico Amor”. Têm preferência pelo género romance histórico ou gosta de abordar diferentes temáticas?

Nunca tinha pensado em escrever um romance histórico, até a minha editora (Esfera dos Livros) me desafiar. Tudo o que escrevia era mais intemporal, mas percebi, através desse primeiro desafio, que a História permite trabalhar esses temas que me interessavam, e que sempre interessaram à Humanidade. Entender o Passado, é perceber quem somos e como chegámos até aqui. É uma lição sobre o Homem e sobre as suas potencialidades (e também fragilidades). Enriquecedor para o leitor, mas também para mim, que tenho de estudar bastante para construir este tipo de ficção.


Como faz para gerir a carreira e o papel de mãe? 

Quando trabalhava fora de casa (em televisão) era mais complicado. Hoje em dia o meu escritório é a minha casa, o que me permite gerir os horários em função dos meus filhos e das suas necessidades. Claro que isso obriga a uma gestão cuidada do tempo, sem grandes dispersões, mas como sempre gostei de fazer muita coisa ao mesmo tempo, acho que tenho alguma “ginástica”, nesse sentido.


Que cuidados tem com a imagem?

Invisto sobretudo na minha saúde. Cuidar da pele e do cabelo, por exemplo, com bons produtos (comésticos ou naturais) é, mais do que uma questão estética, uma questão de saúde física. O nosso corpo é o invólucro de tudo o que somos e temos para dar. Se o nosso interior estiver bem, o exterior reflecte-o, mas o interior também pode sair beneficiado se o exterior estiver bem e não for uma fonte de perturbação.

A imagem está longe de ser tudo, mas eu, pessoalmente, gosto de me sentir bem na minha pele, de tentar que a minha imagem reflicta a felicidade que sinto por fazer o que mais gosto.


Se pudesse escolher um período da História para viver qual seria?

Não olho para trás com saudade de nenhum período em particular, até porque o papel da mulher nunca foi particularmente simpático nem fácil. Imagino-me muitas vezes é no futuro, num tempo em que o Homem já ultrapassou uma série de limitações no pensar, no sentir e na forma de se organizar. Gosto bastante de estudar o Passado mas, enquanto exercício criativo, é ainda mais aliciante para mim inventar o futuro.

 
A Sara começou a escrever ainda criança, sempre soube que seria este o seu destino?

Não sei se acredito no destino ou não, é uma das questões que já coloco a mim própria há muitos anos. Acho que nasci com facilidade em exprimir-me através das palavras e com criatividade, isso posso dizê-lo com alguma certeza. Como cheguei até aqui, se tudo isto já me estava destinado ou não, não sei. Prefiro pensar que também tenho feito por isso e que ainda tenho muito por fazer. Até porque não escrevo só para ser escritora. Escrevo porque acredito que os livros, com aquilo que inquietam, fazem pensar, sonhar, questionar, são também uma forma de mudar o mundo. E, nessa matéria, ainda tenho quase tudo por fazer. Se o vou conseguir ou não, em que medida, não sei. Se o meu sucesso ou o meu fracasso já estão traçados, sinceramente também prefiro não saber, até porque só lutamos quando acreditamos que o resultado depende (pelo menos em boa parte) do nosso esforço.


Quais são os seus hobbies?

Com 4 filhos não tenho grandes possibilidades de ter hobbies. Nesta fase da vida o meu esforço vai no sentido de ter rápidos e eficazes “escapes”, durante o dia: correr junto à praia, nadar, saltar no trampolim dos meus filhos... Como trabalho sentada, no meu escritório, o meu escape é o exercício físico ao ar livre, que me ajuda a “limpar” a cabeça. A música, o teatro, a dança e a pintura sempre fizeram parte da minha vida, mas nesta fase fico-me pelas brincadeiras com os meus filhos, que integram tudo isso, de forma lúdica. Talvez um dia volte a investir nelas, mas por enquanto não tenho tempo, embora não me queixe. Quer o meu trabalho quer a minha vida familiar, com todos os percalços inerentes, são para mim fontes de prazer, a que me dedico sem esforço.

 
Se lhe pedisse para fazer um roteiro de locais históricos a visitar no nosso País quais destacaria?

Talvez o Porto, Évora e Lisboa, as três cidades onde vivi. No Porto, onde nasci, sugiro que se pernoite na Pousada do Freixo e se visite a Torre dos Clérigos, que este ano completa 250 anos. Em “D. Teresa de Távora – A Amante do Rei”, pode ler-se um capítulo que percorre estes dois espaços.

Em Lisboa, sugiro que se desça a Avenida da Liberdade e se entre na baixa pombalina. Se passe pelo Convento do Carmo (com os seus vestígios da destruição do terramoto) e se termine o passeio no Terreiro do Paço, a ver o rio. Talvez na esplanada onde agora estamos.

Évora não é mencionada no meu romance, mas é a cidade onde vivi 14 anos. É património mundial, e respira-se História em cada recanto.


A Sara também é autora de dois blogs, o que a motivou a criar estes espaços?

Comecei o “Coisasdepais” após o nascimento do meu segundo filho, para registar as gracinhas e as aventuras dos meus filhos. Já lá não sete anos. Gostava de, um dia, recolher todas essas histórias e transformá-las num livro que os meus filhos possam guardar, para recordarem o que foram e o que me fizeram sentir.

O blog com o meu nome é mais recente. Sempre escrevi muito em cadernos, sobre diversos assuntos. Neste momento faz-me sentido partilhar algumas das coisas que vou escrevendo e que não integram os meus livros. São pensamentos, reflexões, textos dispersos que nunca irei aproveitar, mas que talvez possam interessar a alguém.


Como se define como mulher?

Acho que tenho, como todas as mulheres, a complexidade inerente ao género: pensamos demais, complicamos demais, preocupamo-nos demais... mas somos também capazes das maiores façanhas, pela nossa força, pela nossa capacidade de sacrifício, pela nossa dedicação e “desmultiplicação”... Estou a generalizar, é certo, mas, enquanto mulher, sinto que tenho um bocadinho de tudo isso que nos caracteriza. Sou Escritora, Mãe, Esposa e Mulher. Nem sempre nas doses certas, mas procurando o equilíbrio necessário para chegar a tudo e a todos sem me perder pelo meio. Veremos como me saio.

Agradecimentos:








Look 

Vestido H&M F/13/14 | Colar e anel Swarovski by  Shourouk | Carteira Roseau Héritage by Longchamp

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2 comentários:

  1. Adorei a entrevista e conhecer melhor a autora por trás do livro. Um resultado surpreendente e com visivel cumplicidade. Parabéns às duas. Beijo grande

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  2. Adorei!
    Primou pela classe, pelo bom gosto, algo raro.
    Quando for grande quero ser assim. Continue, cá estarei para aplaudir.
    http://essenciaismakeupeoutrospormartav.blogspot.pt/

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