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1 de abril de 2014

Cristina Santos e Silva | Na Primeira Pessoa


Tenho acompanhado o trabalho de Cristina Santos e Silva ao longo dos anos e sempre me identifiquei com a sua imagem e bom gosto, patente não só na decoração de interiores e recuperação de espaços mas também no seu estilo único e pela sua extrema elegância. Nesta entrevista descobri uma mulher divertida, com muito carisma e de uma enorme simpatia. Para mim a Cristina é uma daquelas mulheres que vejo como um exemplo de classe intemporal e como tal é com enorme orgulho que publico esta entrevista que realizei com imenso prazer. Obrigada Cristina.


Como surgiu o gosto pela decoração e arquitectura? Sempre soube que era esta a área que queria seguir?


Acho que desde sempre me lembro de querer ser arquitecta. Mesmo quando era muito pequenina, parece que entrava nos restaurantes e hotéis e ia logo ver as casas de banho. Os meus pais comentam que brincavam comigo, dizendo que ia ser arquitecta de casas de banho. A decoração surge quase por acaso mas está intimamente ligada a arquitectura, são indissociáveis.


A Cristina desenvolveu alguns dos seus projectos em Macau, acha que de alguma forma isso influencia o seu trabalho?

Em Macau exercia funções mais na área do urbanismo. Realmente a minha formação é Arquitectura com especialização em Recuperação Urbana e em Macau era nessa área que trabalhava. Mas, como era nova e cheia de dinâmica, para além do Instituto Cultural de Macau (organismo do Governo de Macau), fazia inúmeros projectos para empresas portuguesas...Bancos, sedes de empresas, fundações mas para não haver conflitos de interesses esses projectos eram só de interiores. Assim deixei em Macau uma obra que é bastante visível, pois foi o nosso Departamento de defesa do Património que conseguiu que Macau se tornasse Património Mundial e outro conjunto de obras menos visíveis, que são os escritórios e as sedes da maioria das empresas portuguesas de então.


São muito diferentes a arquitectura e decoração do Oriente em comparação com o Ocidente?

Como deve saber a China deu cartas ao mundo durante milhares de anos no que refere a arte nas suas várias manifestações…Porcelana, têxteis, pintura, etc. Há de facto uma estética muito apurada e muito forte que particulariza e distingue o Oriente do Ocidente. A arquitectura é absolutamente distinta apesar das referências estéticas orientais terem sido sistematicamente absorvidas pelo Ocidente nos vários períodos da nossa História. A influência da cultura chinesa nas artes é indiscutível, particularmente para alguém que lá viveu e trabalhou como eu.


Tem desenvolvido projectos em diversas áreas, quais os que lhe dão mais prazer? Prefere incrementar algo de raiz ou fazer uma adaptação ao que já existe?

Realmente sou abençoada por trabalhar no que me dá prazer. Gosto muito do que faço, adoro a minha profissão...O acto de criar, de inventar o espaço, de gerar a forma e a vivência de algo é muito especial e muito gratificante. Tanto gosto de projectar de raiz uma casa ou um edifício, como de intervir numa preexistência. A arte de interpretar o que já existe também é um exercício fascinante.

Normalmente os trabalhos que tenho desenvolvido em Hotelaria são na sua maioria edifícios antigos, recuperados, que ganham uma nova vida e uma nova alma.

Posso afirmar que é fascinante assistir ao renascimento de algo e ter um papel importante na criação de uma nova personalidade, de uma nova identidade. Por exemplo este Hotel há muito que estava descaracterizado. Era um edifício triste e abandonado, agora é algo Vivo com uma dinâmica que ajudei a criar e isso é espetacular.

Claro que projectar algo de raiz é como um nascimento, às vezes até digo que é como dar à luz. A ideia, a concepção, o ver crescer um projecto depois o tempo de o trabalhar e apurar, os licenciamentos e as dificuldades burocráticas, a obra...O ver a construção a erguer-se, a finalização dos trabalhos de construção civil... Os interiores, os acabamentos, a decoração...É como ajudar no crescimento e depois ver partir um filho. É um processo muito intenso, de uma dor e de uma extrema felicidade.


Estamos no Hotel Portugal, um dos seus trabalhos mais recentes onde as cores predominantes são o azul e o dourado, qual o motivo por que escolheu estes tons?

Quando se intervém num edifício já existente, ele próprio sugere…A sua personalidade é transmitida através das suas paredes, dos seus vãos, das suas fachadas, da sua história. Há uma ligação que se estabelece quando se começa a avaliar e a estudar o edifício.

Neste projecto, para além do programa funcional fornecido pelo cliente, havia a intenção de particularizar este espaço como português, como inserido na cidade de Lisboa, que transmitisse a luz da cidade, a alma Lisboeta. Para mim a cidade é o azul do céu, do branco das calçadas, do dourado do sol a refletir no rio…O azul dos azulejos...Acho que se a alma de Lisboa tivesse cores eram estas.


Foi também responsável pela recente remodelação da Loja das Meias das Amoreiras, como foi este desafio? Do seu currículo vastíssimo, tem outros projectos que queira destacar?

Sou realmente uma privilegiada. Ter a sorte de intervir em edifícios carismáticos ou em zonas emblemáticos da cidade ou em espaços de referência é definitivamente um orgulho para qualquer arquitecto. No Porto tive o prazer de fazer o projecto de renovação do Hotel Infante de Sagres que é sem dúvida o Hotel mais emblemático da cidade. Na minha Lisboa que adoro tive o privilégio de intervir nos interiores do restaurante Eleven, numa zona soberana do Parque Eduardo VII.

Na Avenida da Liberdade, a Avenida por excelência de Lisboa, tive a sorte de projectar o Hotel Altis Avenida (um caso de sucesso), num edifício classificado e de inegável valor patrimonial da autoria do conhecido arquitecto Cristino Da Silva.

Agora o novíssimo Hotel Portugal, numa das praças mais antigas de Lisboa e, noutro contexto, mas não menos importante, a renovação da célebre Loja das Meias, uma das marcas de Moda mais tradicional de Lisboa. É motivo de orgulho e não posso disfarçar que me sinto muito honrada. Este processo, tal como todos os outros, correu muito bem, numa simbiose perfeita com o cliente! Posso afirmar com satisfação que na esmagadora maioria dos trabalhos tenho a sorte de me cruzar com clientes que potenciam as minhas características profissionais, que me fazem crescer e com quem gosto muito de trabalhar. Escusado será dizer que não trabalho sozinha, tenho uma excelente parceira, a Ana Menezes Cardoso, amiga e colega desde os primeiros anos de faculdade, assim como uma equipa de arquitectas que, apesar de pequena, é de uma grande produtividade.


Criou também recentemente uma colecção magnífica para a Topazio, como foi realizar este projecto?

Também neste desafio dei o meu melhor e foi muito estimulante desenhar em abstracto para um consumidor desconhecido.

Apesar de em todos os meus projectos, tanto de arquitectura como de interiores, desenhar e pormenorizar todos os detalhes (gosto muito de projecto de execução), nunca tinha desenhado uma peça para produção em massa. Ou seja, todo o desenho de equipamento ou mobiliário (mesas, consolas, estantes, etc.) é sempre baseado e contextualizado num processo. É para alguém ou para algum espaço.

Neste caso, o desenhar um copo de vinho do Porto ou um Decanter para ser comercializado sem um destinatário preciso tornou-se um processo criativo diferente do habitual. Mas como em todos os desafios também este me enriqueceu e adoro passar numa loja e ver as minhas peças.


A Cristina é uma mulher extremamente elegante e com um estilo original. Tem alguns criadores de eleição ou escolhe as suas peças independentemente da marca?

Sou uma mulher feliz, positiva. Gosto de Sol, de mar, de cor...A minha maneira de vestir reflete essa energia que necessariamente existe em mim.

Marcas como Missoni, Pucci ou Etro que para além de muito gráficas são mestres no uso da cor e dos padrões fazem muito o meu género! Mas não sou fundamentalista e adoro misturar temas e padrões informais com apontamentos mais convencionais, como carteiras ou sapatos mais clássicos.

Mais uma vez, na Moda como na Decoração, o ecletismo impera!

Vivemos cada vez mais numa sociedade que privilegia a imagem e dada a sua profissão é certamente uma esteta por natureza. Tem algum segredo nos seus cuidados que queira partilhar?

Hmmm, tenho duas versões de mim. Uma em que sou um pouco descuidada, por exemplo, quem me conhece sabe que sou viciada em sol, adoro um belo escaldão, com tudo o que representa de irresponsabilidade...Protecção 15, na melhor das hipóteses. Outra em que não saio de casa sem um mínimo de maquilhagem, indispensável o blush e o rimmel. Relógio e brincos fazem-me voltar a casa, mesmo que já saia atrasada!

Até há pouco tempo não dispensava os saltos altíssimos, mesmo para as obras mas ultimamente tenho dado uma oportunidade aos rasos.


As viagens são certamente uma fonte de inspiração. Quais as viagens que mais a marcaram e porquê?

O viver no Oriente foi sem dúvida marcante e, para além de fazer de mim uma pessoa forçosamente diferente, permitiu-me visitar lugares distantes que de outra forma nunca teria conhecido.

Independentemente disso a viagem mais fascinante que fiz (muitos anos antes de viver em Macau,) foi à India e Nepal, quando acabei o curso de arquitectura...Já lá vão 30 anos.


Se não vivesse em Portugal qual o Pais que elegeria para viver e trabalhar e porquê?

Já me interroguei muitas vezes...Adoro Paris, adoro passear, adoro descobrir a cidade, adoro voltar aos mesmos sítios. Acho Paris uma cidade linda mas viver? Não sei se alguma vez mais me veria a deixar Lisboa! Sabe, acho que há uma idade para tudo na vida! Quem já viveu tao longe como eu, que quase morreu de saudades... Já tive a minha quota de emigrante, adoro demasiado Lisboa!

Qual o lugar onde gosta sempre de voltar? 

Paris e Hong Kong.


Nesta altura de crise que conselhos daria às leitoras do Breakfast@Tiffany`s para deixar a casa com um look actual sem gastar muito?

Na decoração, tal como na moda, também se conseguem resultados atractivos sem ter que forçosamente gastar muito dinheiro. Grandes superfícies como Ikea são hoje responsáveis por departamentos de muito bom gosto, onde é fácil ser conduzido a soluções atractivas, e até inovadoras, a um custo reduzido. Aconselho sempre a base mais neutra, como por exemplo cores pastel para as paredes ou sofás e tapetes pontuados e salpicados com apontamentos de cores e padrões mais fortes. Assim o risco será menor e, em caso de “enjoo” ao fim de uns tempos, a mudança é mais razoável!

Tem algum projecto que gostasse de desenvolver e ainda não tenha tido oportunidade?

Gostava imenso de projectar uma grande Igreja...Uma catedral de preferência!


Como se define como Mulher?

Sou uma mulher positiva, alegre, muito dinâmica, às vezes até demais. Os mais chegados queixam-se que sou uma "canseira " mas acho que é a minha ânsia de viver, de aproveitar ao máximo tudo o que a vida me reserva.

Tive a sorte de nascer numa família que adoro, que sempre me mimou mas que me deu as ferramentas para ser quem sou. Acho que sou uma mulher de trabalho mas vivo o dia-a-dia o melhor que sei.

 
Fui surpreendida com um miminho que amei oferecido pela Cristina :)



Agradecimentos:





Créditos Fotográficos: Rute Obadia Fotografia



Hair by Tita

Make-Up by Vicky

Manicure Tânia




Look 

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6 comentários:

  1. Obrigada Mariana, foi um prazer realizar esta entrevista e conhecer melhor a Cristina.

    Um beijinho,

    Carmen

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  2. obga Carmen, está muito bem…e a Carmen é uma simpatia...

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  3. Obrigada eu Cristina por me dar o prazer de realizar esta entrevista. Adorei conhece-la pessoalmente.

    Um grande beijinho,

    Carmen

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