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15 de dezembro de 2013

Isabel Stilwell | Na Primeira Pessoa


Passei uma tarde muito agradável no Restaurante Lisboa na Rota das Sedas com Isabel Stilwell, a autora do livro que me tem acompanhado nos últimos tempos, Ínclita Geração, mas também uma jornalista multi-facetada, mãe e acima de tudo Mulher. No final fiquei com vontade de ler todos os seus romances históricos. Espero que gostem da nossa animada conversa.

 
Isabel como foi passar do jornalismo à escrita de romances históricos? 


A passagem não foi direta – já tinha escrito vários livros antes de chegar aos romances históricos, mas nada que exigisse tanto esforço de investigação, disciplina e a construção de uma história tão longa, e com tantos personagens. Mas foi tão importante e soube tão bem, exatamente porque foi um desafio novo, uma coisa que me teria considerado incapaz de fazer.

 
O seu último livro, Ínclita Geração, retrata a personagem de Isabel de Borgonha uma mulher forte e extremamente emancipada para a sua época. Julga que o facto de ter vivido no estrangeiro a terá tornado uma mulher com outra visão do mundo? 


O facto de ter vivido mais de 40 anos na corte mais rica e mais culta da Europa da Idade Média contribui com toda a certeza para alargar a sua visão do mundo, mas a Isabel, princesa de Avis era já uma mulher invulgarmente educada para a época, e com um treino real de exercício do poder e administração de territórios. Ela fica sempre intrinsecamente portuguesa.


Uma mulher tão forte que tentou salvar Joana d´Arc… Como vê este acontecimento?

Não sabemos se, de facto, tentou ajudar a salvar Joana d´Arc. Os meus romances históricos são feitos da recolha de todos os elementos históricos possíveis, e depois de um exercício de plausibilidade sobre os factos conhecidos. Por isso parece-me plausível que tenha estado com Joana d´Arc e que tenha feito parte do lobby que a tentou salvar. Sabemos que Isabel de Borgonha, grávida do seu primeiro filho, esteve simultaneamente com Joana d´Arc no mesmo castelo, o castelo de Noyon – presumir que falaram é uma suposição que me parece válida, sobretudo tendo em conta que a sua cunhada e grande amiga, Anne de Bedford, defendeu Joana, e testemunhou inclusivamente de que era virgem, o que impedia o tribunal de a condenar por bruxaria. Mais ainda, as damas da Borgonha, nomeadamente da casa do Luxemburgo, tudo fizeram para que não fosse entregue aos ingleses, porque sabiam que resultaria na sua morte. É de crer que Isabel estivesse com elas, mesmo sabendo que a captura fora feita pelo seu marido, e que o duque de Borgonha desejava entregar Joana ao seu então aliado, o duque de Bedford.


Isabel de Borgonha teve um papel importante na moda das cortes, tendo levado as saias e as tocas à portuguesa para as cortes europeias. Acha que também foi uma pioneira nesta área? 

Isabel era uma mulher bonita, inteligente, e que sempre terá gostado de se vestir bem. As descrições que dela faz um cronista flamengo quando vêm a Portugal integrado na comitiva do duque de Borgonha, é de uma mulher sofisticada, ricamente vestida. Ressalva a touca portuguesa, aquela com que aparece no retrato que Van Eyck pinta dela em Avis, e que o pintor vai depois reproduzir em Sibila de Cumes, na pintura do Cordeiro Místico em Ghent. As saias portuguesas são referidas, anos mais tarde, por outros cronistas que relatam as grandes festas do ducado. Este gosto e talento para a moda, terá passado a ser inclusivamente um cartão de visita – a duquesa de Borgonha passa a maior parte do tempo na Flandres, o maior centro têxtil da Europa de então, onde a lã que vinha de Inglaterra era tingida com cores nunca antes vistas. Os pigmentos que chegaram dos Descobrimentos eram mais um dos “produtos” de que Isabel era, no fundo, embaixadora.


Grande parte dos personagens deste livro tiveram um papel fulcral na História de Portugal. Esta foi sem dúvida uma altura marcante em que os portugueses deram novos mundos ao mundo. Acha que grande parte do sucesso do livro, que é já um Best Seller, se pode basear no facto de nos lembrar de como Portugal já foi uma nação tão importante numa época de crise?

Julgo que a Ínclita Geração, os filhos de Filipa e João, sempre nos atraiu. É uma família unida, apesar das suas desavenças que nos livros das escolas foram escamoteadas, culta, que consegue dar novos mundos a um país pequeno e pobre – é um feito que irá desencadear muitos outros, e proporcionar períodos de riqueza que até ai nunca tinham sido conhecidos. Por isso sim, é natural que queiram saber mais, e fazem bem, porque há muito mais para saber. Mas o meu primeiro romance histórico, Filipa de Lencastre tem milhares de leitores, e acho natural que queiram saber a “continuação” da história que já leram, e de que presumo gostaram.


O que mais a inspirou na personagem de Isabel de Borgonha?

A determinação, a coragem, e a capacidade de fazer o melhor uso das oportunidades – já viu o que era sair do seu país, da sua família, de sua casa e ir para um reino onde tudo era novo, para se casar com um homem de que sabia apenas ser um mulherengo sem emenda, rodeado de filhos bastardos? É claro que acredito que havia um desafio a que uma filha de Filipa de Lencastre nunca conseguiria resistir, um sentido de missão para o qual tinha sido educada, e um desejo de servir Portugal e os seus irmãos que aliviavam esta partida, mas era certamente duro.


De todos os seus romances conseguia eleger um? Se lhe pedisse para escolher um período da História Portuguesa, qual o época que gostava de ter vivenciado?

Não consigo eleger nenhum, são todos tão diferentes porque dependem em absoluto da personagem retratada, e do período da História. Quanto a época, gosto muito daquela em que nasci! Apesar de todos os pessimismos, acredito que o mundo se tornou um sítio melhor, e para mais gente.


E um roteiro de locais históricos a visitar no nosso País? Quais destacaria?

Portugal é o mais fantástico roteiro histórico, os nossos castelos, aldeias, igrejas, tudo. Mas recomendava o caminho que Filipa de Lencastre fez para entrar em Portugal, e que vem descrito, com todas as indicações, no final do livro: O mosteiro de Cela a Nova, Ponte de Mouro, a travessia da Galiza para o Porto, passando pelo Gerês, e o Porto, onde casou, e que é uma cidade maravilhosa.


No jornalismo, passou pela revista País & Filhos, Notícias Magazine e mais recentemente pelo jornal Destak e a Revista Máxima, sem esquecer a rádio, na Antena 1. Tem um género como o qual mais se identifique?

Comecei no Diário de Notícias, onde estive oito anos, e por isso guardei sempre o gozo do jornal diário, com toda a sua adrenalina. Depois a passagem pela Marie Claire, o fazer de raiz a Pais e Filhos e por fim a Notícias Magazine, ensinaram-me o prazer da possibilidade de fazer entrevistas e reportagens com mais profundidade e investigação, e que agora recuperei na minha colaboração com a revista Máxima. A Rádio é uma descoberta de há alguns anos com que me identifico imenso, porque adoro conversar, e gosto do ambiente intimista que nos liga aos ouvintes. Como vê quero tudo!


Como foi a experiência de trabalhar numa revista de moda tão emblemática como a Marie Claire? O que significa para si o mundo da Moda?

O mundo da moda significa pouco, embora me fascine uma boa produção de moda, e admire sobretudo o trabalho do produtor e do fotografo. Há produções de moda de tirar o fôlego. Mas não concebo nada sem estilo, que pode ser o estilo próprio daquela pessoa, ou daquela revista. A Marie Claire é uma revista cheia de estilo, como é a Máxima com que colaboro agora, dirigida pela Sofia Lucas, que é das pessoas com mais estilo que conheço. Mas tanto numa, como noutra o que mais gosto é do espaço para as grandes entrevistas e para a reportagem, são essas as minhas paixões, que nunca passam de moda.


A Isabel tem alguma relação especial com a moda? Algum criador de eleição?


Nenhum de nós é indiferente à moda, é esse o seu poder. Já jurei a mim mesma que uma tendência é horrível, para uns meses depois a vestir alegremente. Gosto de usar as peças de que gosto desde sempre - como uma camisola confortável, camisas de xadrez, calças de peitilho - com coisas novas que me atraem e divertem. Não tenho nenhum criador de eleição, e agradeço ao dono da Zara a criação da marca.


Como se define como mulher? 


Não gosto de me definir, parece muito definitivo, lol. Mas sei que sou antes de mais nada mãe, e agora avuecermos, no entanto, o que levou a ela.  menos pobreza e mais capacidade de nos reinventarmos para sairmos desta crise, sem esqó, que não era nada sem o meu marido, e que ser jornalista é irrevogável (no verdadeiro sentido da palavra). A escrita de romances históricos trouxe-me uma nova realidade que também não quero deixar.


Em fecho do ano, quais os seus projectos e desejos para 2014?

Mais livros, mais crónicas, mais Dias do Avesso, mais reportagens, mais tardes a passear pela serra de Sintra com as minhas netas, mais almoços com sopa de tomate, e claro menos desemprego, menos pobreza e mais capacidade de nos reinventarmos para sairmos desta crise, sem esquecermos, no entanto, o que levou a ela.


Agradecimentos:







CK One Make-up by Miriam Martins


Rute Obadia fotografia


Look

Calças H&M 13/14 | Camisa H&M  13/14 | Colete Elogy | Sapatos Zylian | Colar Zara

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